quinta-feira, janeiro 11, 2007

Para a pessoa que guarda em si as mais belas palavras,


As palavras morriam a todo instante. Diante das palavras mortas, as pessoas, atônitas, quase não diziam nada, velavam-nas em silêncio, pois as palavras já começavam a faltar.

Primeiro morriam as palavras do poema, improfícuas excrescências da linguagem funcional. As coisas desencantavam de suas adjetivações e se embruteciam. No exercício das palavras rudes o homem se aproximava da barbárie.

O fim da civilização se dará no silêncio. As palavras só existirão na boca dos pássaros. Privado da palavra, o homem não poderá dizer as cores da natureza e irão calar seus sentimentos porque as palavras vivem na alma antes de habitarem o som.

Condenadas ao desuso e a mudez, antes de sepultadas, eram fragmentadas e isoladas em letras, cada qual em sua cova, para que como palavras, não mantivessem a força da eternidade e como letras, não pudessem se juntar em novas palavras que desafiassem a lei do extermínio imposta pelos homens.

Assistíamos com um pesar seco e inerme ao vergonhoso cortejo fúnebre que ali desfilava. Voltei-me para ela, seguro de que ainda havia uma palavra que pudesse resistir ao desaparecimento e disse: “Querida, você me ama?”. Ela respondeu: “Não mais.”. Mais uma palavra morria naquele instante.


4 Comments:

Blogger Sussy Côrtes said...

CLAP CLAP CLAP (as maísculas indicam aplausos de pé...hehehe)
Excelente! Parabéns mesmo!
A proposta do livro de citações está de pé, viu?!

3:53 AM  
Blogger Juliana Guimarães said...

Surpreendente. Essa palavra não morre, enquanto vc estiver escrevendo. Cada texto seu tem isso, pode ficar sossegado que suas letras quando juntas formam espontaneamente aquela palavrinha de cima, que vai aparecer, por mais que sua modéstia negue. Beijos!

3:20 PM  
Blogger Wertem Tawera said...

"Palavra,
a Puta que me pariu."

5:35 PM  
Blogger Lorena said...

cadê mais palavras, jovem espalhafatoso?

9:55 AM  

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