domingo, agosto 20, 2006

O filme de nossas vidas

O que se passa nessa tela não é uma estória de herói, filme em cores de alento, paixões em mel e flores, 120 minutos de um lenitivo indulgente. Não é mais que um breve olhar sobre a solidão em luz áspera, em seqüências de olhos secos e dentes cerrados. Nesse filme os planos não acariciam as superfícies, mas se injetam sob a pele e queimam na circulação, lentos, comichões na alma. Um destilado de angústia brota da tela e evidencia o aroma azedo da vida. Sombras mudas machucam o som e não se ouve. Os espaços são adstringentes, estômago colado, enquanto o nada se expande e sufoca e se exaspera em silêncio. De sal, de fel, de pedra, vazio. Esse filme não tem fim.