quinta-feira, janeiro 11, 2007
Para a pessoa que guarda em si as mais belas palavras,
As palavras morriam a todo instante. Diante das palavras mortas, as pessoas, atônitas, quase não diziam nada, velavam-nas em silêncio, pois as palavras já começavam a faltar.
Primeiro morriam as palavras do poema, improfícuas excrescências da linguagem funcional. As coisas desencantavam de suas adjetivações e se embruteciam. No exercício das palavras rudes o homem se aproximava da barbárie.
O fim da civilização se dará no silêncio. As palavras só existirão na boca dos pássaros. Privado da palavra, o homem não poderá dizer as cores da natureza e irão calar seus sentimentos porque as palavras vivem na alma antes de habitarem o som.
Condenadas ao desuso e a mudez, antes de sepultadas, eram fragmentadas e isoladas em letras, cada qual em sua cova, para que como palavras, não mantivessem a força da eternidade e como letras, não pudessem se juntar em novas palavras que desafiassem a lei do extermínio imposta pelos homens.
Assistíamos com um pesar seco e inerme ao vergonhoso cortejo fúnebre que ali desfilava. Voltei-me para ela, seguro de que ainda havia uma palavra que pudesse resistir ao desaparecimento e disse: “Querida, você me ama?”. Ela respondeu: “Não mais.”. Mais uma palavra morria naquele instante.
terça-feira, dezembro 05, 2006
domingo, dezembro 03, 2006
Póstumo
Vídeo curta-metragem vencedor do prêmios:
- Estímulo à Produção do 2 Festcine Goiânia 2006
- 2 lugar na categoria ficção na 5 Mostra Nacional de Vídeos Universitários de Mato Grosso 2006
Resto Produções
André Luiz: Roteiro e Câmera
Bruno: Som e Montagem
João Paulo: Direção de fotografia e Câmera
Mariana: Produção
Wertem: Roteiro e Direção
quinta-feira, novembro 02, 2006
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Até hoje não sei se aquilo foi um conselho ou uma ofensa.
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Então pintei a cara e saí. Queria expor meus ridículos, me entregar à galhofa. Quanto mais rissem, quanto mais expiassem seus ressentimentos em mim com seus dentes escancaradamente sádicos, mais eu regozijaria do meu ser abjeto, gozaria com minhas costas sulcadas pela violência da humilhação. Eu queria morrer um pouco em mim e sobreviver como um personagem que suporta a dor sorrindo. Queria ter as luzes da cidade como as luzes do meu palco. E como palco eu queria os desvãos da vida, o vazio que ninguém habita. Queria a vida como o desespero de um prato vazio. Andando pela rua logo me deparei com um mendigo. Ele me olhou e disse: Limpa sua cara, palhaço.
Até hoje não sei se aquilo foi um conselho ou uma ofensa.
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quarta-feira, outubro 25, 2006
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- O que é perda?
- Lembra quando a joaninha pousou no seu ombro? Primeiro você se assustou e ficou com medo de se mexer. Aí ela foi descendo pelo seu braço e foi fazendo uma coceirinha gostosa. Você foi gostando e começou a olhar de perto aquele corpinho vermelho e redondinho, pintado de bolinhas brancas como o algodão onde você plantou seu pé de feijão, com perninhas finas igual ao cabelo da mamãe. Você se divertia com os passeios que ela fazia no seu braço até que você, morrendo de vontade dela ser seu bichinho de estimação, tentou pegá-la. Aí ela voou. Perda é quando a joaninha voa.
- Mas eu ainda sinto a cosquinha que ela fazia.
- Isso já é outra coisa, meu filho. Isso é saudade.
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domingo, outubro 22, 2006
Em setembro escrevi: E quando alguém finge se importar, a gente finge que acredita. Fica por isso mesmo. Em um relacionamento isso se chama amor.
Em outubro, Nelson Sargento, 82, baluarte da Mangueira, revela à Folha que fez os versos: "Nosso amor é tão bonito/ Ela finge que me ama/ E eu finjo que acredito"
Como diz o Millôr, "não persigo a originalidade - ela existe ou não existe. Sou fascinado pela impossibilidade de ser original e tenho até uma especial experiência de 'originalidade' (falta de)", sobre uma de suas peças cujo nome não era tão original quanto pensava.
Talvez eu tenha um pouco da inspiração sambista. Mas acho mesmo que carrego também o "saco de ilusões" que muitos carregam. Ilusão é invencionice de poeta. Ou é a vida inventada das pessoas. O fato é que ninguém é original nem quando quer. Os sentimentos são os mesmos, só mudam os versos.
Queria acreditar que o amor é como o samba de Nelson, que agoniza mas não morre, alguém sempre o socorre antes do suspiro derradeiro.
Em outubro, Nelson Sargento, 82, baluarte da Mangueira, revela à Folha que fez os versos: "Nosso amor é tão bonito/ Ela finge que me ama/ E eu finjo que acredito"
Como diz o Millôr, "não persigo a originalidade - ela existe ou não existe. Sou fascinado pela impossibilidade de ser original e tenho até uma especial experiência de 'originalidade' (falta de)", sobre uma de suas peças cujo nome não era tão original quanto pensava.
Talvez eu tenha um pouco da inspiração sambista. Mas acho mesmo que carrego também o "saco de ilusões" que muitos carregam. Ilusão é invencionice de poeta. Ou é a vida inventada das pessoas. O fato é que ninguém é original nem quando quer. Os sentimentos são os mesmos, só mudam os versos.
Queria acreditar que o amor é como o samba de Nelson, que agoniza mas não morre, alguém sempre o socorre antes do suspiro derradeiro.