quinta-feira, janeiro 11, 2007

Para a pessoa que guarda em si as mais belas palavras,


As palavras morriam a todo instante. Diante das palavras mortas, as pessoas, atônitas, quase não diziam nada, velavam-nas em silêncio, pois as palavras já começavam a faltar.

Primeiro morriam as palavras do poema, improfícuas excrescências da linguagem funcional. As coisas desencantavam de suas adjetivações e se embruteciam. No exercício das palavras rudes o homem se aproximava da barbárie.

O fim da civilização se dará no silêncio. As palavras só existirão na boca dos pássaros. Privado da palavra, o homem não poderá dizer as cores da natureza e irão calar seus sentimentos porque as palavras vivem na alma antes de habitarem o som.

Condenadas ao desuso e a mudez, antes de sepultadas, eram fragmentadas e isoladas em letras, cada qual em sua cova, para que como palavras, não mantivessem a força da eternidade e como letras, não pudessem se juntar em novas palavras que desafiassem a lei do extermínio imposta pelos homens.

Assistíamos com um pesar seco e inerme ao vergonhoso cortejo fúnebre que ali desfilava. Voltei-me para ela, seguro de que ainda havia uma palavra que pudesse resistir ao desaparecimento e disse: “Querida, você me ama?”. Ela respondeu: “Não mais.”. Mais uma palavra morria naquele instante.