quarta-feira, outubro 25, 2006

.

- O que é perda?

- Lembra quando a joaninha pousou no seu ombro? Primeiro você se assustou e ficou com medo de se mexer. Aí ela foi descendo pelo seu braço e foi fazendo uma coceirinha gostosa. Você foi gostando e começou a olhar de perto aquele corpinho vermelho e redondinho, pintado de bolinhas brancas como o algodão onde você plantou seu pé de feijão, com perninhas finas igual ao cabelo da mamãe. Você se divertia com os passeios que ela fazia no seu braço até que você, morrendo de vontade dela ser seu bichinho de estimação, tentou pegá-la. Aí ela voou. Perda é quando a joaninha voa.

- Mas eu ainda sinto a cosquinha que ela fazia.

- Isso já é outra coisa, meu filho. Isso é saudade.


.

domingo, outubro 22, 2006

Em setembro escrevi: E quando alguém finge se importar, a gente finge que acredita. Fica por isso mesmo. Em um relacionamento isso se chama amor.

Em outubro, Nelson Sargento, 82, baluarte da Mangueira, revela à Folha que fez os versos: "Nosso amor é tão bonito/ Ela finge que me ama/ E eu finjo que acredito"

Como diz o Millôr, "não persigo a originalidade - ela existe ou não existe. Sou fascinado pela impossibilidade de ser original e tenho até uma especial experiência de 'originalidade' (falta de)", sobre uma de suas peças cujo nome não era tão original quanto pensava.

Talvez eu tenha um pouco da inspiração sambista. Mas acho mesmo que carrego também o "saco de ilusões" que muitos carregam. Ilusão é invencionice de poeta. Ou é a vida inventada das pessoas. O fato é que ninguém é original nem quando quer. Os sentimentos são os mesmos, só mudam os versos.

Queria acreditar que o amor é como o samba de Nelson, que agoniza mas não morre, alguém sempre o socorre antes do suspiro derradeiro.

quarta-feira, outubro 04, 2006

.


- E se as estrelas tudo cair?
- Então a noite fica banguela, meu filho.


.