quinta-feira, novembro 02, 2006

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Então pintei a cara e saí. Queria expor meus ridículos, me entregar à galhofa. Quanto mais rissem, quanto mais expiassem seus ressentimentos em mim com seus dentes escancaradamente sádicos, mais eu regozijaria do meu ser abjeto, gozaria com minhas costas sulcadas pela violência da humilhação. Eu queria morrer um pouco em mim e sobreviver como um personagem que suporta a dor sorrindo. Queria ter as luzes da cidade como as luzes do meu palco. E como palco eu queria os desvãos da vida, o vazio que ninguém habita. Queria a vida como o desespero de um prato vazio. Andando pela rua logo me deparei com um mendigo. Ele me olhou e disse: Limpa sua cara, palhaço.

Até hoje não sei se aquilo foi um conselho ou uma ofensa.

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