terça-feira, agosto 29, 2006

Abismo: a boca aberta da existência esperando para nos engolir.

"Quem gosta de abismos deve ter asas."



Indiferença: o esforço de fingir não se importar.



quarta-feira, agosto 23, 2006

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Absorto nos teus olhos, você os fechou-me no esquecimento.



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domingo, agosto 20, 2006

Viola de pedra

Eu penso cá, seu moço, que a viola tem as corda de aço pra podê aguentá o peso do sentimento que o cabôco põe nela. Pois se ansim num fosse, se a viola quebrasse as corda, quebrava tamém as nossa esperança. Quantas vez com a viola abraçado senti as corda dançando tali-quá as batida do meu peito. De vez mais eu saluçava mais bonito ela falava, querendo me acalentá com suas toada. Quando das vez que a lua saía viçosa do negrume pra alumiá minha tristeza, é que os dedo contava meus queixume pra viola e ela arrespondia com moda tão maraviosa que inté bicho ingnorante de emoção parava suas matança pra cantoria iscutá. Descansada na cacunda, eu levava ela pelo caminhá. No mato, seu moço, hora tem de se enfiá na saroba pra fugi da amargura que enfraquece o entendimento. Cortá o sertão de sol rebentando pra percurá o juízo que se desgarra e fica perdido nalgum lugar por munto tempo e muntas terra andada mas sempre ruma pras barranca do rio. O vento leva, mas as água traz de vorta. Antão o cabôco nas barranca, se acocora e espera o sol apagá o seu corpo nas água. Enduetada com as cantiga da viola, as água vai levando a dor da sodade. Fui, mas sorte não tive, seu moço, de vortá são. Nesse memo rio que pinguei minhas mágoa, ajeitei uma dor de coração. Desceu pelo remanso uma canoinha que trazia um pedacim do sol quando morre vermeio. Meu coração abobeceu e começou a faiá deferente. Parece que nesses causo a natureza ranca a força das perna da gente pra podê usá nas coisa bonita que ela faz. Eu que tinha as mão sempre esperta na viola, garrei a tremê que nem quando relampeia em chuvarada.Quando a canoinha foi se aproximando, meus óio que já tava alagado viu a criatura que de maior formosura nem o sinhô, meu patrão, há de vê nas palavra de poesia. Bem pertim de mim, senti um oroma que iguá num existe na natureza de nenhuma flô, pruquê cabôco prefume no mato cheirô, larga da enxada e dá de sentir amô. Tinha os cabelo de água feroz, bem cumprido, escorregando pelos ombro. Os pezim dela era duas frutinha madura de mel que passarim num bicô. Ela pissuia um corpo que alembrava as curva da viola e que a gente tem de acarinhá com muita dilicadeza pra iscutá o silêncio dentro dele. Vancê, passa as mão na sua farda dilicada, seu moço. Pois num é qui nem a pele dela. Se um dia eu rasgá um pedaço das nuvem pra comparação, elas vai assemeiá cascaio. E se um dia o sinhô vê a noite mais escura, é que ela pegô de emprestado a arvura da lua pra enfeitá o sorriso e o acende-apaga das estrela pra brilhá naqueles oím pequeno. Devagarim veio chegando, me espiando feito bicho amansado e abriu os braço pra me agasaiá um abraço. Suas unha arrastô as corda da minha viola nas minhas costa e temperô o som dela com açúcar. Os braço dela me arrodeô e eu ajuntei meu corpo com o dela e aí, seu moço, num tem sabença que explica os golpe que a gente sente na alma. Aqui pru dentro fica tudo querendo arrebentá. Quando a gente tava quage se gostando, as água revirô, a canoinha foi se indo pra trás e apartô a gente. Comigo ela deixô um punhado de rio seco e sodade e levou outra porção da minha sastifação pra longe com ela. O que as água traz, o vento leva de vorta. Adespois daquele acontecido, seu moço, eu acho memo que as corda da viola devia de sê de pedra.

Pernas compridas

Havia alguns anos que aquilo sempre acontecia durante certos períodos. Suas pernas cresciam alguns metros a cada dia, impossibilitando-o que saísse de sua casa. Era penoso passar agachado pela porta, com os joelhos roçando as orelhas. Depois, entrar no elevador sem que seu joelho descoordenado solicitasse a parada em muitos outros andares ou as outras pessoas dentro do elevador se enroscassem com metros pernas. Muitos preferiam as escadas. Para entrar no carro afastava para trás seu banco, mas seus joelhos alavancavam a setas, apertavam a buzina ou entortavam o espelho retrovisor. Quando elas atingiam muitos metros, uma ia por fora, pela janela, e a outra se contorcia para atingir os pedais. Não podia freqüentar lugares públicos, pois as cidades não possuem uma infra-estrutura que comportem as necessidades de quem tem pernas compridas. No cinema tinha de se sentar na cadeira do meio da fileira e estender suas pernas pelos corredores paralelos, derrubando várias vezes o lanterninha ou os espectadores que derramavam coca-cola em suas canelas e sapatos. É certo que nas danceterias as pernas compridas lhe garantiam inusitados passos de dança, mesmo nunca tendo uma parceira pra dançar, além de sempre ser expulso por ocupar todo o espaço para a diversão dos que têm passos pequenos. No futebol sempre era tirado do time por infringir com freqüência a regra do impedimento. Perdia alguns minutos em frente ao espelho ensaiando diminuir as pernas. Agachava-se e escondia parte das enormes pernas dentro da camisa, mas nem mesmo ele se convencia do disfarce de pernas pequenas. Desistia de sair de casa para não levar golpes de rasteira. O tombo era cada vez mais alto. E doloroso. Antes de dormir abria as portas do guarda-roupas para que as pernas, que cresciam enquanto dormiam, tivessem espaço para se acomodarem melhor. Quando o guarda-roupas não suportava mais tanto volume, dormia com elas atravessadas pela janela do quarto e dias depois elas já alcançavam os andares inferiores e chegavam ao jardim, onde as crianças do condomínio usavam as canelas como escorregador. E elas se divertiam e seus pais ainda mais, porque suas pernas não cresciam, então riam de quem as tinha compridas. E assim ensinavam a seus filhos. Não havia forma de cessar o crescimento das pernas que não serrar, em casa, sozinho, metros e metros de suas pernas todos os dias. Apesar de serem muitos metros de pernas dispensados diariamente, era preciso serrar milimetricamente cada pedacinho de suas pernas, por horas, à medida que iam crescendo. E doía. Doía.

O filme de nossas vidas

O que se passa nessa tela não é uma estória de herói, filme em cores de alento, paixões em mel e flores, 120 minutos de um lenitivo indulgente. Não é mais que um breve olhar sobre a solidão em luz áspera, em seqüências de olhos secos e dentes cerrados. Nesse filme os planos não acariciam as superfícies, mas se injetam sob a pele e queimam na circulação, lentos, comichões na alma. Um destilado de angústia brota da tela e evidencia o aroma azedo da vida. Sombras mudas machucam o som e não se ouve. Os espaços são adstringentes, estômago colado, enquanto o nada se expande e sufoca e se exaspera em silêncio. De sal, de fel, de pedra, vazio. Esse filme não tem fim.

A moda dos cabelos brancos

Elas resolveram pintar os cabelos de branco. Desde o grisalho às raízes completamente brancas. Era a última tendência da moda. Foram envelhecendo, mas não sentiam o tempo que as enganava. Até que envelheceram sem que percebessem a proximidade da morte. A moda dos cabelos brancos passou e voltaram os cabelos vermelhos, mas elas já estavam todas mortas.

O menino do pé sujo

Ao nascer, era um menino perfeito. Afora uma passageira feiúra de recém-nascido, escutava, chorava, tinha os membros nos lugares certos. Nos inferiores, um joelhinho redondo e pra fora e cinco dedinhos no pé sujo. O pé direito, sempre sujo, não importassem os banhos e esfregões de lixa. Ainda bebê, sua mãe dispensara os sapatinhos de crochê, pois não calçaria um único pé do menino, o limpo. Ou o sujo, dependendo do chão que ele haveria de pisar. Seus passinhos foram crescendo sujos e deixando pegadinhas imundas. Duas, pois o pé esquerdo foi se sujando. Não era, para o pé esquerdo, um destino inevitável, mas uma adequação às circunstâncias de quando se tem o outro par sujo. O menino nunca teve sapatos porque eles duravam não mais que dois dias em seus pés. Apodreciam até aos cadarços quando ele os calçava. Descalço, ia para a escola, onde seus colegas, com pés chatos, de papagaio ou grandes demais, tinham sapatos, ainda que muitos furados ou trocados o pé direito pelo esquerdo. Entrava cabisbaixo na sala de aula e logo via os pés dos outros meninos calçados com sapatos limpos e meias brancas. Estas, o menino do pé sujo só usara nas mãos quando brincava de fantoches. Evitava jogar bola com os outros meninos desde o dia em que pisou em um caco de vidro que lhe custou uma infecção quase fatal. Muitas vezes ao chegar da escola, corria para o banheiro para lavar os pés sujos. Custava um dia inteiro esfregar os pés com buchas até que elas rasgassem e extrair apenas instantes de imundice diante de alguns poucos anos de sujeira acumulada. Inventivo, um dia pegou o ácido que sua mãe usava para lavar o piso do quintal e decidiu limpar de vez os pés sujos. E então, onde estava sujo continuou sujo e onde não havia sujeira, ardeu por três dias em silêncio. Na cama, toda noite sentia frio nos pés sujos, por isso descobertos. E antes de adormecer ficava pensando se quando morresse, aceitariam que ele pusesse os pés sujos nas nuvens limpas do céu. Dormia e sonhava com sapatos e meias brancas. Ao amanhecer, levantava e pisava sujo no chão.

sábado, agosto 19, 2006

Esta flor, cultivada no papel pelos diletantes poetas que a lambem como a língua da amada, regam a lirismo e podam seus espinhos ortográficos; é a mesma das bocas, por ser língua. Às vezes é esplendor, outras, sepultura. Última flor que esgarço, sabe ser rude e doloroso idioma. Em curta, mas ainda bela, diz: adeus.
Minha língua, sozinha, prefere o silêncio.

sexta-feira, agosto 18, 2006






ilusão: amor de gato.







Fim é só o princípio brincando de destruir as coisas.

quinta-feira, agosto 17, 2006

de Adão Iturrusgarai

Se meu mundo caiu ele que aprenda a se levantar de novo.

O penhasco

de Adão Iturrusgarai

"Viver é perigoso."